terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Os Melhores De 2011: Anne Rammi - Super Duper



TIREM SEUS FILHOS DO FACEBOOK


Esse é daqueles posts que escapam das bocas (ou dedos) das grávidas (ou demais sem noção) : Queridas, tirem seus filhos pequenos do Facebook.

Recentemente, tenho visto inúmeras crianças com perfis sociais na rede. Recebo diariamente muitos, muitos convites de ex alunos, queridos que um dia alegraram meus dias ainda nas fraldas, e hoje estão cheios de álbuns postados com fotos de viagens, festas e amigos. Carinhas mais velhas, cabelos longos (posso ver até algumas "chapinhas"). Mas crianças ainda.

Eu por um tempo os aceitei, e achei que não havia maiores problemas. Mudei de idéia, ontem bloqueei todo mundo. Não fiquem chateados comigo!

Eu tenho três argumentos para meu pedido.

1) O Facebook permite o cadastramento de pessoas maiores de 13 anos, somente. Portanto, adolescentes. Todas as crianças até 13 anos que tem perfil nessa rede tiveram que - sem exceção - mentir a idade. 

Um contra argumento poderia ser - Mas as crianças querem muito fazer parte desse advento da modernidade e as redes sociais virtuais são um sinal claro do tempo. Negar acesso a elas seria incoerente com criar crianças no tempo em que vivem.

Ok, entendo esse ponto de vista. Mas nada justifica permitir que seu filho faça um cadastro - qualquer que seja, em qualquer lugar - baseado numa mentira. As crianças não deveriam ser ensinadas (e validadas pelos pais, principalmente) a mentir a idade somente para se sentirem incluídos em um grupo. Vejo que sim, redes sociais são um reflexo da nossa cultura. Mas o Facebook é para adultos, e ponto. Criança nenhuma deveria se sentir "excluída"por não fazer parte dela. Se assim se sentem, é um sinal claro, e grave, da crescente adultização que enfrentamos.

2) O conteúdo dentro da rede é para adultos. Como usuária da rede, assim como se eu estivesse em uma conversa de adultos, eu me vejo no direito de não censurar o conteúdo que compartilho com preocupações etárias. Eu subentendo que meu círculo de amigos virtuais é maior de idade, e assim normalmente não me importo se os links que compartilho, desabafos momentâneos com palavras duvidosas ou demais bobagens que somente a nação Facebuquiana compreende estão servindo de impacto nas crianças.

Um contra argumento poderia ser - Mas as mães monitoram a atividades dessas crianças na rede. 

Concordo que muitas mães conscientes permitem acesso restrito dos filhos à internet, e tudo bem. Mas não acredito que esse monitoramento é efetivo no caso do FB, nem que as mães conseguem de verdade observar o que o círculo de relação dos filhos está postando e muito menos se algum elemento mal intencionado está tentando alguma abordagem perigosa. É como deixar o filho pequeno caminhar na borda da piscina e ficar olhando de longe. Ele vai cair e você vai ter que mergulhar para tirar.

3) Poupem-me de ser a única mãe que não deixa, a mãe mais chata da escola, aquela que não entende o quando um garoto de 10 anos precisa de um FB... honestamente, meu filho não terá um perfil social desses, pelo menos não enquanto essa não for uma atividade adequada, destinada e principalmente PERMITIDA a ele.

Um contra argumento poderia ser - Mas o que você sabe? Você só tem um bebê, espera só até ele te encher o saco, com sete anos para fazer um Facebook. Você não vai aguentar, e vai desistir e vai deixar ele fazer... 

Vocês tem razão, meu filho é só um bebê eu eu estou aqui falando no achismo, cuspindo para cima. Só que essa questão para mim está além do que uma mãe aguenta ou não aguenta. Do que um filho quer ou não quer. Esta questão cai no quesito pode e não pode.

A regra é clara, o Facebook não permite que menores de 13 anos se cadastrem. Não tem conteúdo voltado para crianças. Se a vontade de manter os filhos na rede é maior do que o ânimo para tirá-los de lá, o correto seria iniciar um movimento para a criação de um conteúdo específico para as idades, separação por faixas etárias, ferramentas especiais para controle de acesso e acima de tudo: fazer com que o Facebook mude essa configuração. Ou respeitá-la.

Uma vez que o Facebook tem como regra clara um mínimo de idade para cadastramento, estão isentos. E a responsabilidade - ou culpa, no caso de uma questão mais séria - é dos pais que permitiram alterar o ano do nascimento.

***

Na quarta feira eu estive em um encontro muito bacana promovido pela P&G, com um encontro mamães de diversos "talentos". Para não me alongar muito, bastas dizer que uma delas era Rosely Sayão.

No meio de uma deliciosa conversa, com gosto de quero mais, ela disse algo do tipo: 

"Para criar os filhos, basta que os tratemos como crianças. Não devemos esperar que entendam como entendem os adultos. Que se comportem, como se comportam os adultos. Que comam, durmam, falem, pensem, ajam, como agem os adultos... E peloamordedeus - abandonem esse termo pré-adolescente, a menos que me permitam que eu as chame de pré-velhas. A infância vai até a adolescência, não existe uma fase no meio termo. Esse conceito está roubando sua infância..."

E no meu entender, é um dos grandes responsáveis pela entrada cada vez mais cedo no mundo dos adultos. Um mundo que eles não tem condições estruturais, emocionais, psíquicas de adentrar. Um mundo que não é para eles.

Tirem suas crianças do Facebook.

daqui


(Publicado originalmente no Super Duper em 2 de setembro de 2011)

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