quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Os Melhores De 2011: Carol - Carol E Suas Baby-Bobeiras



Um dia como outro qualquer

Imaginem a cena:

Bebê com gases. Se contorce todo, geme, chora. Mãe já fez de tudo: deu banho, cantou música, mudou de posição, pressionou as perninhas contra a barriga, fez massagem com óleo, shantala, do-in, reza braba. Não adiantou muito. Resolve por cinco minutos, depois volta o calvário. Mãe apela pra chupeta. Bebê cospe longe a chupeta (o que dá um orgulho bobo na Mãe, que não curte essas “intervenções”), sacode as perninhas, curva a coluna pra trás, dá gritinhos. Mãe-contra-intervenções resolve apelar pra funchicórea. “Funchicórea é açucar, você vai dopar o seu bebê”, ela pensa. Mãe sente culpa. Mas Mãe também sente sono e cansaço e pensa que, se pudesse, se dopava um pouco também.

Funchicórea parece o pó do diabo, bebê cospe a chupeta ainda mais longe e faz cara de vômito. Mãe fica ainda mais orgulhosa. E mais cansada, já que precisa lavar e esterelizar a chupeta de novo. E sacudir o bebê no colo. Já que berço e carrinho tem espinhos, o negócio é colo mesmo.

Toca o telefone.

Da veterinária, pra marcar o banho dos cachorros, falar das vacinas e demais assuntos dos filhos caninos. Mãe no telefone, bebê resmungando no colo, chupetas na panela.

“posso te ligar de volta?” – a Mãe pergunta ao moço da veterinária, ao ver que o filho tá chupando seu braço “ele quer mamar”, ela pensa. Seca as chupetas, confere se estão quentes demais, tasca na boca do filho. “pronto, agora, além do açúcar, ele vai provar o gosto de boca queimada pela chupeta”.

Ela desliga o telefone. Bebê pega a chupeta, mas não dura nada: ele quer peito!

Tá bom, peito. Bebê suga suga, escorre tanto leite, o peito tava cheio, Bebê não dá conta, molha a Mãe toda.

“Tudo bem, quando marido chegar, eu tomo banho”.

Já que o bebê tá no peito, ela aproveita pra ligar de volta pra veterinária. Enquanto termina o assunto, sente o Bebê soltando um pumzão, “que bom, liberou esses gases malditos”, ela pensa (ela pensa ou fala no telefone pro veterinário? Não se sabe).

Bebê termina um peito e começa a chorar querendo o outro. Mãe desliga o telefone rápido, meio que sem se despedir do moço da veterinária (será que ela se despediu? Teria desligado na cara dele? Não se sabe). Bebê no outro peito. Mais pum: “oba, depois disso ele vai dormir”.

Peitos terminados, Mãe faz o procedimento troca de fraldas. Bebê faz cara de sapeca. A Mãe já conhece essa carinha. Ele não controla essa expressão, mas é expressão de Fiz Merdinha (era merdão no caso, vejam a seguir).

Tem cocô nas pernas do bebê e subindo pelas costas. Impossível limpar com algodãozinho ou lenços umedecidos. Mãe leva o Bebê pra limpar a bunda na pia mesmo. Bebê sente frio por estar sem a roupinha, começa a chorar. “Cadê aquela chupeta esterelizada que tava aqui agorinha?”. Caiu no chão, o cachorro tá lambendo. Vai pra água fervendo de novo. Mãe pega o Bebê peladinho no colo, vai até a cozinha, taca a chupeta na água (a mesma que ferveu a chupeta há cinco minutos atrás – será que ela deveria ter trocado essa água? Não se sabe). O Bebê peladinho se acalma. Tanto que faz outro cocô. Agora em cima da Mãe. Que já tinha tomado um banho de leite.

Corre pro banheiro, Mãe lava o Bebê, se lava um pouco. “Merda, esqueci a caralha da toalha do Bebê. Seco ele com a porra da toalha de rosto?” A Mãe pensou ou falou? E aquela idéia de não falar palavrão perto do Bebê? “Idéia de cu é rola” – a Mãe falou (ou pensou. Não se sabe) – “Melhor não secar com a toalha de rosto”. Corre com o bebê peladinho pro quarto. Ele chora com o frio. “Puta merda, esqueci a chupeta na panela”. Mãe larga o Bebê dentro do berço, pega a chupeta, pega a toalha adequada, acalma o Bebê, percebe que ele aproveitou pra fazer xixi no lençol do berço (“foda-se, troco essa merda mais tarde”), veste, faz carinho, dá mais um pouco de peito pra ele acalmar, o cara da veterinária liga de novo “esse puto tá afim de mim, só pode. Por que me liga tantas vezes?”, Bebê termina de mamar, arrota, dorme.

Fim (ou não).

***

Essa cena é real, aconteceu comigo agorinha e serve pra explicar meu sumiço: assim tem sido meus dias. Mas ó: nem fico mais chorando tanto não (só um pouquinho!), eu acho é graça disso tudo.

Ah, uma última coisa: o Bebê não dormiu no final. Ele me enganou, fechou os olhos por dois minutinhos, abriu de novo e segue me olhando com cara de “o que vamos fazer agora, mãe?”.

He-he.

(volto em breve, se assim o Bebê permitir!)
(Publicado no Carol E Suas Baby Bobeiras em 9 de junho de 2011)

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