domingo, 13 de maio de 2012

Especial Dia das Mães : A loucura de ser mãe

Há poucas semanas recebi um e-mail sobre a maternidade. Um texto muito engraçado, daqueles que rodam por aí como se fosse propriedade da Martha Medeiros, do Arnaldo Jabor ou da Rita Lee. De qualquer forma, era divertido mesmo que tenha sido escrito por um desconhecido. Começava dizendo ter a intenção de desconstruir alguns mitos sobre ser mãe. O mito de que "mãe é mãe" era o primeiro. "Mentira, mãe já foi mãe. Agora mãe é um monte de outras coisas. Mãe é também empresária, atleta, guarda de trânsito, ditadora, mergulhadora, avó, destaque de escola de samba..."

Lá pelas tantas, falava sobre o que mais me chamou a atenção no texto inteiro. O de que ser mãe é padecer no paraíso. E a autora dizia o que sempre achei, mas nunca tive coragem de dizer. "Que paraíso, cara-pálida? Paraíso é o Taiti, a Grécia, Bora Bora ou qualquer lugar onde criança não possa entrar". Ri muito.  Mas antes de discorrer sobre este tópico, acalme-se, adoro ser mãe. Definitivamente, é o meu lado A, o que amo fazer de verdade. Sonho em ter mais filhos. Mas só acho que tem coisas que deveriam ter me dito....

Minha primeira gravidez foi aos 29 anos, depois de seis anos de casamento e oito de namoro. Ou seja, foi desejada, esperada, planejada. Engravidei na primeira tentativa e já estava me achando a dona da situação quando os enjôos começaram. Como eu não tinha pensando nisso? Para mim, aquela coisa de sair correndo para o banheiro ao sentir um cheiro de comida ou perfume do marido era coisa de novela das seis. Mas não era. O que tive foi diagnosticado como hiperemese gravídica. Tenho uma hipersensibilidade a hormônios. Conclusão:  nunca pesei tão pouco, tive olheiras mais profundas e me senti tão fraca. Ao final do quarto mês de gestação, havia perdido seis quilos e fui internada porque não parava mais em pé. Nem água eu conseguia beber.

Descobri que era uma menina e que, apesar de todo aquele sofrimento, crescia forte e gorducha, sugando todas as minhas reservas de energia. Um alívio! Com o tempo, fui aprendendo a conviver com os enjôos e lembro bem que acordei no dia em que a Sofia nasceu, fui ao banheiro, vomitei e fui ao hospital. Impressionante! Mas ela nasceu saudável, linda e perfeita! E daí a gente esquece tudo.

Outra coisa que ninguém havia me alertado é que eu me assustaria ao ver o meu corpo nu logo após o parto. Por que ninguém avisa? É de propósito? Só falam da barriga, que é linda e isso a gente sabe. Mas e depois? Não esqueço do meu primeiro banho em casa. Chegamos do hospital e meu amado marido, que também é médico, me ajudou a tirar a roupa, a cinta e toda a parafernália. Eu o coloquei em outra categoria após ficar sozinha, me olhar no espelho e ver aquela mistura de barriga meio murcha, peito enorme, pele roxa por conta das injeções e da manipulação do parto. Que horror! Queria sair correndo de mim mesma.

Mas a natureza é maravilhosa e tudo volta ao normal, ou a muito próximo de. E o bebê está ali precisando de você, do seu leite, do seu cuidado, do seu colo, do seu amor. E é uma delícia! Amamentei durante um ano inteiro e achei essa experiência maravilhosa. Depois vieram todas as etapas da minha pequena e fui vibrando com cada aprendizado. Quando ela tinha dois anos, engravidei novamente, mas sofri um aborto com sete semanas de gestação. Cheguei a pensar que gravidez não era para mim. Mas depois resolvemos tentar novamente e engravidei do André, que quase nasceu um mês antes do planejado porque a mãe dele era uma doida, trabalhava demais, viajava, voltava pra empresa mesmo se o pré-natal terminasse às 17h e se ela estivesse muito cansada.

Uma bronca da médica, um repouso forçado, um nascimento perfeito. Só que depois que chega o segundo a gente surta mesmo. É muita função para apenas dois braços. Os momentos de carinho, beijos, cheiros são deliciosos. Mas a maior parte do tempo a gente passa fazendo funções bem menos poéticas. É a hora de acordar, de dormir, de almoçar, de escovar os dentes, de fazer tarefa, de brincar. E tem que ter hora pra tudo porque eles se sentem mais seguros e estressam menos. Mas a casa acaba virando um quartel general.
E o que quero dizer com esta volta ao passado é basicamente o seguinte. Família sorridente e feliz o tempo todo não existe mais nem em propaganda - talvez só no Facebook. As crianças normalmente, à mesa, não querem comer, brigam, choram, gritam. Levei alguns anos para entender que o problema não era o que estava acontecendo com a minha família, mas que existe uma distância muito grande entre o peixe que lhe vendem - e que você compra sem questionar - e a realidade.

Também achava lindo, e muito adulto, ter dois filhos para poder falar : "as crianças", colocá-las no banco traseiro e pegar a estrada, com todos sorrindo, ouvindo uma música linda e sentindo o vento nos cabelos. Até parece. O André, desde que nasceu, nunca gostou de ficar no bebê-conforto. Ele não chorava, ele urrava. O trajeto inteiro, a viagem toda. Delícia, né?

Mas, com o tempo, a gente aprende a rir com o que não estava no planejamento. Crianças nos ajudam neste processo. Se a louça na pia antes de incomodava, agora a coleção de Hot Wheels espalhada pela sala, o pacote de biscoitos virado no chão do carro ou as mãozinhas sujas na parede lembram que aqui mora uma família de verdade, com gente alegre, que grita, chora e ri. Tudo junto. E um escândalo público vindo de um filho de uma amiga te conforta. "Ufa, não é só lá em casa".

Ter filho é sofrido, doído. Eles te deixam louca, te desafiam, te testam. Ter filho é fantástico, é a única maneira de conhecer o amor verdadeiro, aquele que dói, que explode no peito. Filho nos faz virar bicho, leoa. Eles fazem a gente esquecer da nossa vida, desfocar do nosso umbigo. É absoluta entrega. É o fim do egocentrismo. É a maior maratona que existe. É corrido, exige tempo e organização. É um exercício diário de paciência, controle, limite.

É amor demais. Não é o paraíso. Mas é amor demais.



Texto de Daniele
Publicado no blog minha casa, meu mundo

Nenhum comentário: