quarta-feira, 6 de março de 2013

Pira For Kids Apóia: Conscientização!

Hoje nosso blog traz uma convidada muito especial e uma reflexão para todos nós. Apresentamos Mari Hart, do blog Diário de Uma Mãe Polvo, autora do texto abaixo:




Mari é mãe da Stella e dos gêmeos Pedro e Léo, e fala um pouco sobre uma das suas maiores dificuldades diárias. Acompanhem:

  Final de tarde. A rotina intensa de um dia está prestes a se encerrar. Falta um único compromisso, mas a médica só atende nesse horário, não há muitas opções. Lá vai aquela mãe carregando seu filho de 5 anos em uma cadeira de rodas. Coloca na mala do carro, e como é pesada! Seu filho também é, mas melhor assim, come bem e é forte como um touro! Ao chegar no Centro Comercial onde se situa o consultório, não há vagas no estacionamento. Mas e aquelas reservadas aos cadeirantes!? Estão ocupadas e entre os carros, NENHUM leva alguma identificação de que se trata realmente de um deficiente. Aquela mãe com seu filho, a essa altura já se atrasou. A única vaga livre era bem longe da entrada, não haviam rampas de acesso como nas vagas especiais, e ela fazia um enorme malabarismo entre os carros que ali passavam, para passar sã e salva com seu pequeno. 

  No dia seguinte, tudo de novo outra vez, afinal, a vida não pode parar! Aquela mesma mãe sai com seus filhos, entre eles aquele menininho cadeirante. Após deixar o filho nº 1 e o nº 2 em suas respectivas atividades, ela segue seu dia com o filho nº 3 sob rodas. Desta vez o destino é um shopping perto de casa. Mas não é um passeio como parece. Naquele lugar fica sua agência bancária onde ela precisa resolver pendências. Tb aproveitaria para ir ao correio postar uma encomenda e ao final, comprar um presente para a festa do sábado  que se aproxima. E a história se repete... As vagas especiais no estacionamento estão todas ocupadas, e entre os 8 carros que lá se encontram, apenas um deles tem alguma referência a deficiência. Ela se dirige ao segurança, relata o problema, e ele diz: "Pois é... o povo não respeita mesmo né!? Fazer o quê!"

  E como parece desgastante! E então, no outro dia daquela semana, ela resolve deixar o filho em casa com o pai enquanto vai à rua resolver seus afazeres de mãe/esposa/donadecasa. "Enfim estou saindo a pé sem ter que me estressar com vaga!" ela pensa. E logo visualiza um daqueles absurdos pelo qual ela vive na pele. Um rapaz aparentemente saudável, por volta dos seus 20 anos, de bermuda de surf e chinelo estacionando em uma vaga de deficientes. Ela decide alertá-lo dizendo: "Ei! Essa vaga é para deficientes!" Ele apenas diz arrogantemente: "Eu sei" e continua andando. 

  Os mesmos episódios se repetem por muitos e muitos outros dias. No mesmo local, tempos depois, um homem engravatado sai belo e faceiro depois de estacionar naquela vaga. Ela parece incansável, e mais uma vez cumpre seu papel e diz: "Desculpe incomodar, mas essa vaga é para deficientes!" E o homem retruca: "O que vc tem a ver com a minha vida!? Se mete na sua! Vai fazer o quê comigo, vc é autoridade!? Vai te catar!" Ela que não leva desaforo pra casa, tb aumenta o tom e diz: "Não sou autoridade, sou cidadã que respeita o próximo. Hoje você não é deficiente físico, mas amanhã poderá ser! Mas sua deficiência de caráter não tem jeito!" Vira as costas e sai com sensação de dever cumprido, mesmo após tanto estresse.

  Tais cenas são verídicas, apesar de muito surreais para ser verdade. A mulher em questão sou eu, Mariana Hart, muito prazer. Mãe da Stella, e dos gêmeos Pedro e Leo, portador de paralisia cerebral do tipo tetraplegia espástica. Leo não anda, não senta, não fala, e muito mal sustenta o pescoço. Infelizmente eu poderia citar dezenas de acontecimentos como esse, que vivo durante esses anos de mãe de uma crianca diferente. Falta de educação, descaso, falta de amor ao próximo, egoísmo, e a falta de um fundamento básico da raça humana tão necessário em nossa vida: o respeito.

  A vida dos cadeirantes e seus condutores já é um tanto difícil, pela própria limitação motora. E a população brasileira, insiste em piorar o que já é complicado. Se cada um fizesse a sua parte, ou seja, respeitar o espaço do outro e o que lhe é de direito, certamente diminuiria o pesar. Mas sei que de braços cruzados não posso ficar. Enquanto eu viver, irei brigar quando avistar alguém cometendo esta barbárie. Mas meu protesto é pacífico, em forma de palavras escritas, a fim de conscientizar essas pessoas. As vagas não existem apenas por existir. Elas são mais largas para a montagem da cadeira de rodas. Ficam mais perto das entradas e tem rampas de acesso. Por isso há algum tempo distribuo nos carros parados indevidamente panfletos como este aqui:


  Todos sabemos que talvez 'educar' adultos, seja até mesmo tarefa impossível. Mas se eu conseguir tocar o coração de 1% dos motoristas que lerem meu apelo, todo trabalho valerá. Quero um dia, poder não precisar sair de casa mais cedo já prevendo esse tipo de problema. Quero usufruir do direito de meu filho de ir e vir, com dignidade. Quero um dia, poder dizer às criancas, que vivemos em um país onde as pessoas se respeitam. Quero fazer valer a pena tudo o que acredito e os valores que passo a meus filhos.  Quero poder sonhar acordada e ter a certeza de que esse sonho não é uma utopia. Quero um dia poder dizer "sim o respeito existe, estamos livres meu filho!" Eu acredito.



Nós também acreditamos!

E se você também acredita, deixe aqui o seu apoio.

(Post publicado originalmente em março de 2012)

8 comentários:

Carol disse...

Poxa, Mari, que texto... fiquei com o coração apertado aqui diante das suas dificuldades, e ao mesmo tempo surpresa com sua serenidade.
Queria ficar com uma câmera no estacionamento, só pra ver a cara do motorista que parou na vaga especial quando ele pega o bilhete que vc deixa no para-brisa. Será q aí em Pira não tem ninguém que toparia fazer um vídeo assim?
bjs
Carol
#amigacomenta

Thaty disse...

Oi Mari! Já acompanho seu blog há algum tempo, então já sabia mais ou menos dessas suas dificuldades que vc enfrenta. Mas acho que nunca falei o quanto eu tenho ódio de gente que para em vaga de deficiente e idoso. Uma vez eu fui a um supermercado e um garotão parou na vaga de idoso. Eu não me contive e, qdo passei por ele, falei: você tá bem conservado pra quem tem mais de 65 anos, né? E ele respondeu; por que? E eu: ué, vc estacionou na vaga de idosos! Depois vi que ele foi lá fora e tirou o carro da vaga, só que o imbecil parou na de deficientes. Aí pensei: alguém precisa dizer pra ele que ser imbecil não o torna um deficiente...aff!

Beijão!
Tati
Mulher e Mãe
#amigacomenta

Recursos, Estratégias e Experimentos Didáticos 2021 disse...

Realmente é revoltante esse abuso com as vagas de deficientes e idosos.
Meu pai tem parkinson e tem mobilidade reduzida e tem uma imensa dificuldade para entrar e sair do carro. E ele não aceita usar as vagas de deficiente pois acha que ainda tem condições de seguir numa vaga normal. Quando ele vê uma pessoa que tem não tem nenhuma limitação física numa vaga destas ele deixa chama atenção da pessoa na hora e insiste para pessoa tirar.
Já ouvir desaforos tremendos e teve sucesso em muitas vezes.
Mas acredito que isto tudo é educação e respeito ao próximo.
Beijos,
Ana Carolina
#amigacomenta

Mãe para Mães disse...

Apoiadíssimo!!

Infelizmente é difícil educar as pessoas. Vamos fazer nossa parte e tentar mostrar e elas o quão egoístas são ao pensar apenas em si.

Infelizmente, pessoas educadas e inteligentes são minoria, mas não vamos nos cansar de agir corretamente e de pensar no próximo, com respeito.

Abraços,

Jamile
Mãe para Mães
www.maeparamaes.com

#amigacomenta

Unknown disse...

A Mari é ativista incessável nessa causa, e fala com propriedade, pois vive a situação de perto. E os bilhetes que ela deixa são ótimos, uma forma bem humorada de conscientizar ou, ao menos, fazer a pessoa se envergonhar. Eu ainda me estresso muito com a falta de educação das pessoas, nem sei se fosse comigo, acho que viveria com raiva...

Educar adultos é complicado, então temos que começar com nossos filhos a conscientização, para que nas próximas gerações haja mais respeito.

Falou Tchau disse...

Realmente um assunto muito delicado e bastante pertinente... eu digo que admiro mto quem vive esta rotina, pois qd precisava ir à pé pra casa da minha mãe empurrando o carrinho de bebê do meu pequeno era uma luta... tinha que ir literalmente no meio da rua pq não tem rampas, passeios decentes e tudo mto difícil!!! Nesta hora fiquei imaginando quem é cadeirante, quem tem alguma deficiencia ou como a Mari que tem filho cadeirante... como eles tem que se desdobrar pra fazer coisas as vezes consideradas "simples".
Eu tento fazer a minha parte... nunca paro em vagas reservadas, se vejo que precisam de ajuda me ofereço e sempre que posso tb alerto sobre os diretos das pessoas!! Mas vamos nessa a luta é constante e o sucesso está proximo, se Deus quiser!
Gostei do relato e vou lá no Diario da mãe polvo saber um pouquinho mais sobre ela!
Bjs e
Falou Tchau!

Mari Hart disse...

Obrigada pelo apoio meninas! =))))

A questão é exatamente essa: educar adultos! Tarefa muito difícil! O pior é que esses adultos passam valores e exemplo a suas criancas que são os adultos do futuro que cometerão os mesmos erros de seus pais! Um ciclo sem fim, inacabável!

Outro dia um homem estacionou na metade da vaga de deficiente, a outra metade do carro estava sob a rampa de acesso. Fui abordá-lo, e vi que estava com uma crianca da idade do Leo no carro, e ele virou a cara sem dizer uma palavra e continuou! Tive que dizer "que exemplo a seu filho hein?! sinto muito por ele."

As crianças crescem achando que isso é normal, e dá no que dá!

Bjos em todas! =)

Anônimo disse...

Mari, é realmente revoltante.. e você como uma mãe maravilhosa tem todo meu apoio, vou divulgar no meu face também, vamos conseguir. Grande abraço e muita força. Deus te abençoe ! Alessandra G. Betti