segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os Melhores De 2011: Minha Pequena Ísis


O xixi, a cor, o soldado e a vassoura.

Tá, eu vou ser a chata das questões meninas e meninos, não tem jeito, sempre fui assim. Eu gosto de questionar, a mim mesma também, pois eu tenho diálogos internos onde eu mesma apresento minha teoria e eu mesma a derrubo com contra argumentos. Loucura? Eu chamo de "uma mente a frente do seu tempo", aproveitando para copiar descaradamente a Anne, que deve estar babando no filhote Tomás.

As diferenças na educação de meninas e meninos sempre me chamou a atenção e me revoltou deveras. Eu sempre fui grata pela minha mãe nunca ter tido um filho homem, do contrário teríamos acrescentado mais questões a serem discutidas entre nós. Estresse desnecessário!

Como já disse antes, ao me ver grávida de uma menina, eu naveguei em terras calmas, mundo conhecido. Eu sabia exatamente o que eu queria e não queria na educação dela, e os resultados que eu almejava alcançar com esta ou aquela decisão.

Por exemplo: eu não acho admirável mulheres consumistas, que fazem parcelas e mais parcelas para comprarem sempre roupas novas, maquiagem, acessórios, que estejam sempre preocupadas com a estética, com sua imagem, com a estria e a celulite, que não se sintam bonitas sem estarem maquiadas, escovadas, cheias de brincos, pulseiras e afins. Sinto tédio em conversas sobre dietas, artistas, roupas e sapatos (mas eu amo sapatos, deixo registrado!). Esclarecendo: eu acho lindo uma mulher feminina, discreta, que saiba se vestir com elegância, sem exageros e que não seja escrava da moda e da beleza. Minha ação é não incentivar este tipo de comportamento na minha filha: maquiagem não, esmalte não, roupas cheias de frufrus não, sempre ter que sair com penduricalhos não, roupas infantis que imitem de adulto não, salto não, biquini minúsculo (pasmem, eu sofri para achar um que fosse infantil e que tapasse a bunda da Ísis, o ó) e com modelo de adulto não, brinquedos que imitem salão de beleza e afins não, aniversário em salão de beleza não.

E, como é sabido, estou esperando um menino...um menino...e o que eu quero para ele? O que eu quero incentivar/desincentivar nele? Que homem eu desejo que ele seja no futuro? Eu olho as minhas referências masculinas...melhor parar! Vamos começar do zero então. Meu marido é minha melhor referência masculina, mas forçoso é admitir que muito do que admiro nele hoje eu tive que brigar para conseguir desde o início do nosso namoro. São anos de conversas e mais conversas sobre um mundo muito diferente do dele. Depois do nascimento da Ísis então...tive que lutar muito contra essa idéia de que homem não sabe cuidar de filho e incentivar/obrigar todo e qualquer cuidado que não fosse amamentar.

Se eu tivesse outra menina, eu trilharia caminho mais conhecido, eu já tinha angariado conquistas na divisão de responsabilidades com meu marido, ao menos o início não seria tão complicado.

E chega o Pedro, esse serzinho que ainda não conheço, mas que já está balançando minhas convicções e trazendo à tona novas questões, ótimas questões eu diria. Os filhos, realmente, nos fazem progredir.
...

O XIXI

Da minha sala no trabalho eu vejo uma cena: um menino de uns 3 ou 4 anos com o pinto para fora regando o canteiro. Olhando o feito, a mãe. Detalhe: há dois banheiros bem em frente ao canteiro. Um grupinho de homens observa a cena: o motorista da unidade e 2 auxiliares de serviços gerais. Um diz: olha o guri! Não tem banheiro aqui? Os outros dois tiram sarro dele e defendem a regada de xixi do menino. E eu fico pensando: e se fosse uma menina acocorada fazendo xixi no canteiro, quando há dois banheiros à disposição? Seria um comportamento aprovado?

E aí alguém pode (e sempre falam) falar que é mais fácil para o menino, que não tem coisa melhor que fazer xixi de pé no canteiro e tals. Mas eu pergunto: fazer xixi/coco em público é um comportamento aceitável? Porque aquele pênis infantil um dia será um pênis adulto que achará normal e aceitável sair de dentro das calças em público porque precisa "aliviar", mesmo na presença de banheiros.

Em Joinville eu briguei com um pai na pracinha que deixava seu filho fazer xixi na árvore, ao invés de levá-lo ao banheiro. Se fosse sua filha, você a incentivaria a baixar as calças e fazer xixi ali mesmo? Ou você a levaria para o banheiro? O xixi dos meninos é mais limpo e cheiroso que o das meninas? Ou mostrar o pênis do menino não tem problema, mas a vagina tem?

Só para constar: emergências xixizísticas existem, e ninguém escapa delas.
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A COR

Como eu já disse, o Pedro herdará da Ísis algumas roupinhas, e como não poderia deixar de ser, há muito rosa nelas. No final de semana estamos arrumando as roupas quando marido percebe os tons de rosa em alguns bodys, calças e tip tops. Logo brada um "filho meu não usa rosa", no que é veementemente censurado com um "filho nosso usa rosa sim, a Ísis não usou azul, por acaso?" Há!

Conversamos sobre as cores. Eu ajudei meu marido a descobrir que cores não tem sexo, minha gente! Rosa é só uma cor, azul é só uma cor, e tanto o rosa pode estar numa roupa masculina - e aqui cabe frizar que obviamente não separei as roupas da Ísis tipicamente femininas, mas aquelas neutras - como o azul pode estar numa roupa feminina!

Repitam comigo: rosa é só uma cor! Ela não tem sexo! Você pode chamá-la de A COR ROSA, ou pode chamá-la de O TOM DE ROSA! A ou O, você escolhe! Azul também é só uma cor! Ela não tem sexo! Você pode chamá-la de A COR AZUL, ou pode chamá-la de O TOM DE AZUL! A ou O, você escolhe!

Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo. Cores não tem sexo.
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O SOLDADO E A VASSOURA

No mesmo dia da arrumação do quartinho e logo após a constatação de que cores não tem sexo, como fazia uma tarde chuvosa e faltava emoção aquele domingo, iniciamos, eu e marido, uma conversa sobre brinquedos de meninos.

Com o tom taxativo que me é peculiar eu avisei que confiscaria os bonecos e brinquedos de guerra. Super heróis estão aprovados (com ressalvas) porque há toda uma mensagem do bom contra o mal que considero super válida. Mas de guerra, não. Tanque de guerra, não. Espada, não. Arma de brinquedo, não. Cowboys X índios, não. Desenhos violentos, não. Brincadeiras violentas, não.

Marido não concordou e defendeu seu ponto de vista, muito bem defendido aliás! Ele é muito bom na argumentação. São brinquedos típicos do mundo dos meninos, meninos gostam disso, ele brincou muito e não é violento. Eu havia dado um jogo de chá para a Ísis (rosa e lilás), ela havia ganhado uma vassoura e eu não havia confiscado, mesmo não gostando deste tipo de brinquedo para menina.

Tudo verdade! Mas aí eu tive que explicar melhor: sim, eu não gosto da obrigatoriedade destes brinquedos serem unicamente direcionados para meninas (e tudo rosa ou lilás), mas eu mesma considero normal e saudável o interesse da CRIANÇA e não apenas da menina por este tipo de brincadeira. Normal, as crianças nos imitam, nós cuidamos da nossa casa, cozinhamos, lavamos, passamos, faz parte do nosso dia a dia. Cuidamos uns dos outros.

Mas não guerreamos, não usamos armas, espadas, não exterminamos índios, não atiramos bombas nucleares em pessoas que pensam diferente de nós, não nos consideramos superiores aos outros e tratamos de exterminar/escravisar os diferentes de nós..., ao menos, não deveríamos fazer/ter feito nada destas coisas!

Para mim, este tipo de brinquedo incentiva este tipo de pensamento. Não é determinante, concordo, mas como não sei que tipo de pessoa o Pedro será, vou cuidar da parte que me cabe: educá-lo para ser uma boa pessoa, com bons sentimentos e respeito ao outro. Não quero que meu filho seja um machão, quero que ele seja um homem de bem.

Para terminar eu perguntei sobre o fato de não darmos brinquedos de "beleza" para a Ísis, ou comprar roupas que imitem a de adulto. Porque incentiva uma sexualização e vaidade desnecessária precocemente. Nisso concordamos os dois. Se ela vai ou não ser vaidosa ao extremo, ou ter sua sexualidade precocemente desenvolvida, enxergar a si mesma como um objeto de desejo masculino, eu não posso saber, mas eu posso não incentivar.

Brincadeiras de guerra incentivam a violência e a intolerência em todos os sentidos. Se o Pedro vai ser uma pessoa violenta e intolerante, eu não posso saber. Mas eu posso não incentivar.




(Publicado originalmente no blog Minha Pequena Ísis em 20 de dezembro de 2011)

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